sábado, 20 de outubro de 2012

Latinhas.

Hoje em dia existe uma preocupação enorme com a reciclagem. E, como ser humano consciente defendo esta bandeira.

Onde trabalho existe um grande descarte de embalagens, a maioria das quais são direcionadas ao catadores de recicláveis. E em casa também faço a separação e reaproveitamento de embalagens quando é possível.

Ontem fiquei divagando sobre novas utilidades para latas. E entre as soluções plausíveis, como acondicionamento de pertences miúdos como pregos e botões começou a vir na minha mente lembranças da infância e da adolescência, onde ainda não havia a preocupação oficial com reciclagem mas já  esta já era feita.

A minha avó paterna guardava as bolachas de polvilho, que ela produzia, em lata de Leite Ninho bem tampadas. Armazenava e esperava que seus netos chegassem e se regalassem com seu quitute. Ah, como era boas! Crocantes, sequinhas, docinhas...Hum! De pensar sinto o gosto e a magia do momento.

Uma outra lembrança, esta mais engraçada, vem do uso de uma latinha de Nescau. Dou uma boa gargalhada e revivo as divertidas e emocionantes situações. Calma. Já explico o porquê desta latinha danada.

Quando morava em Brasília, num apartamento funcional, ao qual meu pai tinha direito e era mobiliado, havia um sofá que num dia sem mais nem menos, partiu a  estrutura do meio e soltou um pé de apoio também no meio. A solução imediata encontrada pela minha mãe foi colocar uma lata  de Nescau. Altura exata do pé e suporte para a ripa rachada. O único problema era que não dava para saracotear em cima do sofá. Tinha que sentar bonitinho e ponto final. Até aí tudo bem, não fossem seus filhos chegando na adolescência que muitas vezes faziam muita algazarra e traquinagens.

Ocorreram várias situações inusitadas por causa da lata de Nescau. Assistindo jogo de futebol, no auge da torcida, a lata se deslocou levando descendo o assento ao chão dando susto nas visitas. Eu morria de vergonha dos amigos que iam até lá em casa. Coisa de adolescente. Afinal não tinha nada de mais abaixar e arrumar a lata.

Com o tempo percebi que o não conserto do sofá foi estrategicamente pensado. Quando a parte afetiva começou a falar mais alto e pretendentes a namorados começaram a frequentar nossa casa, a lata era providencial. Se havia alguma aproximação mais quente, um beijo roubado sem jeito, a lata caia , o sofá desabava e os meus pais apareciam na sala. Então o comportamento tinha que ser 100%.

Outra lembrança que me ocorreu foi de brincadeiras que fazia na infância. Torre de latas que derrubava com bola, latas amarradas nos pés para ficar mais alta e simular sapato de salto, latas como banquinhos, como suporte de perna de pau, como tambor... Nossa, como era bom! Nada de brincadeiras virtuais.

Bateu forte a saudade, meus pensamentos voltaram para meus avós que já se foram, para as pessoas que vivenciaram tudo isso comigo.

E, as latinhas? Ah estas continuam por aí e com certeza devem ser personagens de histórias de outras pessoas e gatilho para boas lembranças.
Sandra Lazzaris

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