Onde
trabalho existe um grande descarte de embalagens, a maioria das quais são
direcionadas ao catadores de recicláveis. E em casa também faço a separação e
reaproveitamento de embalagens quando é possível.
Ontem fiquei
divagando sobre novas utilidades para latas. E entre as soluções plausíveis,
como acondicionamento de pertences miúdos como pregos e botões começou a vir na
minha mente lembranças da infância e da adolescência, onde ainda não havia a
preocupação oficial com reciclagem mas já
esta já era feita.
A minha avó
paterna guardava as bolachas de polvilho, que ela produzia, em lata de Leite
Ninho bem tampadas. Armazenava e esperava que seus netos chegassem e se
regalassem com seu quitute. Ah, como era boas! Crocantes, sequinhas,
docinhas...Hum! De pensar sinto o gosto e a magia do momento.
Uma outra
lembrança, esta mais engraçada, vem do uso de uma latinha de Nescau. Dou uma
boa gargalhada e revivo as divertidas e emocionantes situações. Calma. Já
explico o porquê desta latinha danada.
Quando
morava em Brasília, num apartamento funcional, ao qual meu pai tinha direito e
era mobiliado, havia um sofá que num dia sem mais nem menos, partiu a estrutura do meio e soltou um pé de apoio
também no meio. A solução imediata encontrada pela minha mãe foi colocar uma
lata de Nescau. Altura exata do pé e
suporte para a ripa rachada. O único problema era que não dava para saracotear
em cima do sofá. Tinha que sentar bonitinho e ponto final. Até aí tudo bem, não
fossem seus filhos chegando na adolescência que muitas vezes faziam muita
algazarra e traquinagens.
Ocorreram
várias situações inusitadas por causa da lata de Nescau. Assistindo jogo de
futebol, no auge da torcida, a lata se deslocou levando descendo o assento ao
chão dando susto nas visitas. Eu morria de vergonha dos amigos que iam até lá em
casa. Coisa de adolescente. Afinal não tinha nada de mais abaixar e arrumar a
lata.
Com o tempo
percebi que o não conserto do sofá foi estrategicamente pensado. Quando a parte
afetiva começou a falar mais alto e pretendentes a namorados começaram a
frequentar nossa casa, a lata era providencial. Se havia alguma aproximação
mais quente, um beijo roubado sem jeito, a lata caia , o sofá desabava e os
meus pais apareciam na sala. Então o comportamento tinha que ser 100%.
Outra
lembrança que me ocorreu foi de brincadeiras que fazia na infância. Torre de
latas que derrubava com bola, latas amarradas nos pés para ficar mais alta e
simular sapato de salto, latas como banquinhos, como suporte de perna de pau,
como tambor... Nossa, como era bom! Nada de brincadeiras virtuais.
Bateu forte
a saudade, meus pensamentos voltaram para meus avós que já se foram, para as
pessoas que vivenciaram tudo isso comigo.
E, as
latinhas? Ah estas continuam por aí e com certeza devem ser personagens de
histórias de outras pessoas e gatilho para boas lembranças.
Sandra Lazzaris
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